6 de fevereiro de 2012

"Só se pode dar quem arriscar cair..."

"Só se pode dar quem arriscar cair..."

Mafalda Veiga

14 de novembro de 2011

NÃO!

Não te quero, não.
Querer-te é amarrar-me
e acabo de me soltar.
Querer-te é ligar-me,
sabendo que não me sei desligar.
Sei-o, sei-o bem.
Por isso não posso...
Não posso querer-te,
não posso entregar-me
não posso amar-te,
não posso prender-me,
não posso prender-te também.
Por isso vai...
Encontra quem se desligue,
quem dê sem esperar receber,
quem dê sem esperar ser recebida,
quem dê sem pensar...
Vai, mas não venhas.
Vai e não esperes.
Não me queiras, não.

21 de outubro de 2011

Rótulos

De tantos rótulos que a si mesma se deu, deixou de saber quem era.
A embalagem esqueceu quem sempre quis ser, por tanto ter sido. Deixou de futurar, imaginar, sonhar. Só recordava, pensava, recuava. Recuava num tempo de certezas certas, de construções que mais não são do que só isso, isso e só isso. Dizia (e sabia) que queria, que não queria, que sabia, nunca ia querer. E quis... (E deixou de saber).
"E agora?", pensava a garrafa, "sei o que vejo quando me olho, imagino o que vêem quando me olham."
E olhou-se. E, de repente, olhou-se e não se viu. Estava mudada, estava diferente. Não era mais transparente, como outrora, como sempre. Não era de cor nenhuma, não tinha cor, ou se tinha, não sabia que cor era. Olhava e não se sabia ver.
"Sempre fui transparente, sempre vi para lá de mim, deste meu corpo frágil, tão frágil, de vidro. Agora o vidro embaciou, qual nevoeiro, e juntou todas as cores que sabia e fez uma nova cor. É nova, estranha, outra. E eu sou outra. Não tenho cor. Tenho cor, mas não sei qual é. Por isso, não tenho cor. Ter é saber e eu não sei, não tenho. Não tenho, não sei, não sou."
Tentou limpar o nevoeiro. Era feio, ficava feia. Fazia do seu vidro brilhante e claro e puro e nítido e belo, uma nuvem que só esconder sabia. E limpou e limpou. E esfregou e esfrogou. Muito, pouco, nada. Desistiu.
Os rótulos com que sempre se rotulara estavam a descolar-se de si. Havia pedaços de uns, pedaços de outros e outros tinham mesmo já caído. Amálgama de passado, ausência de presente, tudo restos e resquícios de antes. Mas e agora? Que rótulo tinha? E agora? Que rótulo queria? E continuou a limpar e a esfregar e a limpar e a esfregar. Parou. Reparou que a nuvem estava igual. Reparou que ela estava diferente.
"Nódoa baça, sujidade da minha vidraça. Desaparece por favor", implorou a garrafa.
E a garrafa chorou. A nódoa não saía de si, a mancha não desaparecia e tudo o que queria era o ontem, quando era limpa. Sentia-se suja e não se conseguia limpar.
"Amigo, preciso de ti. Já olhaste para mim? O que vês?", interregou a uma garrafamiga
"Vejo-te a ti"
"Mas eu não vejo. O que vês?"
"Vejo o que sempre vi. Vejo o que vi ontem, antes de ontem e antes."
"Mas eu não vejo. O que vês?"
"Há quanto tempo não te vês? Olhas para ti todos os dias e nunca viste que estavas a mudar? És tu e já não és. És a mesma, mas diferente. Sempre diferente, a cada dia. Amanhã não sei o que vou ver, mas verei certamente o que vi hoje, ontem, antes de ontem e antes. Não chores, aceita. Olha-te, vê-te, respeita-te, agradece."

11 de outubro de 2011

...

Tenho saudades tuas.
Tenho saudades tuas, amor.
Vês? Tenho saudades de te chamar amor.
Tenho saudades de encostar a minha respiração à tua,
de levar o teu cheiro comigo,
de levar o teu corpo no meu,
de levar o teu beijo nos lábios, na memória, no coração.
Tenho saudades do nosso passado, do nosso futuro.

Merda.
Tenho saudades tuas...

10 de maio de 2011

Todos diferentes, todos iguais

- Boa tarde! Sabe-me dizer se o autocarro passou há muito tempo?
- Não, menina! Passou mesmo antes de chegar! Oh pobrezinha! Eu também o queria apanhar, mas vieram "duas jeovás" falar comigo e não me pareceu bem não parar e não as ouvir, pareceu-me má educação. E lá ouvi as senhoras... Deram-me este papel, olhe (mostra-me a "Sentinela"). No fim lá lhes disse que era Católica e lá me deixaram ir... Eu, cá para mim, sabemos todos o mesmo e no fundo, não sabemos nada... Não acha?

Sorri. Tinha razão. Há coisas que sabemos e há coisas que simplesmente nunca saberemos. Sabemos o que é o bem, o que é o amor, o que é a entrega, a partilha. Mas sabemos o que de facto é a vida? Ou sabemos quem de facto somos ou o que somos? De onde vimos e para onde, na realidade, iremos?

6 de maio de 2011

Silêncio.


O silêncio não
é o nada
ou o vazio.
É,
pelo contrário,
a imensidão do tudo,
sem explicação.

5 de abril de 2011

Primavera

Pimavera, tempo do amor, do calor, da paixão.
Os casais namoram e jogam esse jogo de sedução, de encantamento, de deliciosa descoberta. As aves voam... E eu, que não sou ave, voo também. Não estou aqui; a aula acontece, a professora lê um texto qualquer (nem sei qual, reconheço) e nem oiço. Oiço o meu bater de asas para longe, tão longe! Nem sei de mim, para onde voo, para onde quero voar. Apenas pairo e viajo por aí... Núvens de ideias, brisas frescas de novidades, calor das paixões dos sonhos. E não só voo, como danço. Danço até adormecer. E, continuando a sonhar, mas agora nesse sono tranquilo e sereno, encontro-te. E olho-te, revendo-te, como se nunca te tivesse olhado. E lá estás tu, fantástico, como sempre. És fantástico! E eu fantástica me sinto só de te olhar. Só de te ver sinto magia, um arrepio quente e frio, uma calma perturbante. Durmo agora no teu colo e tu seguras-me com terna segurança. Sou agora criança insegura, mas tranquilizas-me e cresço contigo, cresço em ti. E a tua voz... Nem palavras conheço para descrevê-la... Única, sibilante, profunda, calmante, embala-me, aconchega-me, sossega-me.
Não quero sair do teu colo, não quero adormecer, não quero mais voar. Só poisar em ti e aí ficar. Para sempre.